quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Esquecidos.

Oi,

Você pode me ouvir? Está frio e escuro, não consigo enxergar nada, estou pensando em fazer uma besteira. O mundo aqui fora é mais difícil, não nos deixa ser fraco, mesmo quando somos pequeninos e frágeis. Eu sempre quis conhecer minha família, ou saber se já tive alguma. Estou cansada, meu corpo todo dói,
o tio nos obriga a pedir dinheiro, depois compra uma daquelas garrafinhas e cheira a noite toda. Eu sei que ele não é boa gente, mas é o que eu tenho, a única coisa próxima de um familiar, ou parente.
Ele pediu pra ver o que eu tinha embaixo das roupas, pensei que se referia aos meus ossos aparentes, mas ele queria saciar sua fome, parecia um cão faminto. Penso que não vou durar muito tempo por aqui, por isso escrevo, mas logo,o papelão vai acabar, não terei mais linhas. Além do mais, o pedaço de carvão que peguei da fogueira dos drogados da rua ao lado, não parece ser o lápis ideal.
Sou frágil, queria carinho materno, um cachorro pra chamar de bob, uma casa, um quarto pra mim e meus amigos. Sou infeliz, não consigo sobreviver nessas condições, o dinheiro que consigo no semáforo é todo pro tio se drogar, ele traz um pão ou dois pra todos comerem. Queria minha mãe, pra me orientar e dizer que tudo vai ficar bem. Queria uma avó, pra dar aquele amor que vejo nas novelas, enquanto o sinal está aberto, na padaria do outro lado da rua. Meu início, eu mal lembro, mas parece que o fim... Ah, sim! Esse é bem próximo, acho que... agora!
Só peço a vocês, por favor, não deixem que outros acabem como eu, sem conhecer suas famílias, sendo molestada por  velhos moribundos. Não pude construir família, nem ser uma princesa, tipo aquelas que vejo nas televisões das lojas, só queria viver mais e ver o mar. Mas ele vem logo ali, mancando com aquela barba suja e dentes podres, andando como se fosse o dono das ruas. Eu poderia tentar correr, mas meu corpo já não obedece, não lembro a última vez que me alimentei. Meus olhos doem, e ele está cada vez mais perto. O papelão já está no fim, o carvão acabou, restam, apenas, vestígios nos dedos. Ele chegou. O que acontecerá,
eu não sei. Mas sinto o fim.

Ana Carolina.

12 comentários:

  1. não é atoa que eu sou sua fã.
    muito bom seus textos, caro amigo.
    e com esse texto não foi diferente.
    Carol Góes.

    ResponderExcluir
  2. esse cairo é muito bom viu ?
    escreve mt bem e toca as pessoas, mesmo não intencionado, haha
    tem que postar mais vezes ..
    Manuela P.

    ResponderExcluir
  3. Bom texto
    essa é a realidade das ruas.

    ResponderExcluir
  4. Muito bom, como tudo que você escreve. Dá para refletir. Precisamos dar valor ao que temos, mas que muitas vezes fazemos pouco caso, sejam das coisas materiais ou das pessoas que estão ao nosso lado. Sou sua fã [2] :B

    ResponderExcluir
  5. Excelente texto, meu Cairo amigo.
    Como postei no meu blog mais cedo, as pessoas não sabem dar valor ao que tem, reclamam de tudo: que a roupa está feia, o cabelo bagunçado, que a mãe é chata, o pai só reclama...
    Mas essas mesmas pessoas não percebem quantas crianças queriam ter um pai que reclamasse, uma roupa qualquer, uma mãe chata etc.
    Enfim, parabéns, C7.

    ResponderExcluir
  6. Cairo fala de forma, natural e simples, de coisas tão complexas... é como se fossem coisas vivenciadas por ele. Maiis um texto excelente! Paraaabeens e contiinua escrevendo pra gente! ;*

    ResponderExcluir
  7. Potencial até então desconhecido para mim... Fantástico, genial, meu querido. Parabéns, Ju

    ResponderExcluir
  8. mto bom or di ná riooooooooooooooo kkkk falando sério cara,pra mim não foi surpresa nenhuma,vc escreve muito bem e tem potecial pra isso e mto mais ...continue escrevendo e torça pela parada la (yn) contactando o cara hj kkkk BPEMP

    ResponderExcluir
  9. Olá, retribuindo a visita!
    Belo post, a nossa escrita pode dá voz àqueles que a sociedade finge não ver, você fez isso. Doí ler isso,mas sabemos que é a mais pura verdade! Parabéns, espero ver mais textos assim! Beijo!
    www.mainocencio.blogspot.com

    ResponderExcluir
  10. é como um filme! Você consegui perfeitamente imaginar a cena.. incrível!
    Tai

    ResponderExcluir