Tarantino vai à guerra

Quentin Tarantino.Um dos maiores ícones do cinema na década de noventa, revolucionou o cinema naquela época junto a nomes como David Fincher, Spike Jonze e Guy Ritchie.Mas antes que eu me perca em um gigantesco nariz de cera, Bastardos Inglórious, seu novo filme, surgiu no horizonte há, sei lá, um ano e meio atrás com a promessa de um “Tarantino diferente”, de época, distante das referências a Jornada nas estrelas ou dos geniais diálogos a cerca de hambúrgueres.Bem, uma seção de Bastardos Inglórious depois, a pergunta “É um novo Tarantino?” ganha como resposta um “Sim, ma non troppo”.
A narrativa dividida em capítulos continua presente,porém mais linear do que em Kill Bill ou Pulp Fiction;O fetiche tarantinesco por pés também;A trilha sonora é pontual como sempre; Os diálogos impecavelmente bem construídos idem, e lá pelo penúltimo capítulo ainda há referência ao King Kong, para quem, assim como eu, acreditava ser inviável fazer referencias a qualquer que fosse a entidade da cultura pop em um filme ambientado na Segunda Guerra Mundial.Alias, o compromisso com a fidelidade histórica é zero, o que abre brecha para Tarantino fazer gato e sapato com os Nazistas.E a audiência se diverte em ver Hitler representado como um pederasta violentamente exagerado, e o que pode ser o maior vilão do ano: O afetado e ainda assim muito perigoso "Caçador de Judeus" Coronel Hans Landa interpretado pelo até então pouco conhecido Chistoph Waltz, que se não tiver azar terá seu nome na lista de indicados a melhor coadjuvante no próximo Oscar.Porém, retomando a discussão inicial e deixando de lado os coeficientes comuns, o diferencia de Bastardos Inglórious para os demais filmes do diretor reside no clima de tensão melhor construído e no primor de um texto que no fim das contas é o foco principal do longa metragem (o primeiro capítulo é um bom exemplo disso).É o fenômeno que a critica especializada chama de amadurecimento artístico do Quentin Tarantino.
E amadurecimento artístico à parte, tem espaço para ação e sangue?Lógico, trata-se de um Tarantino legítimo!Os Bastardos do título são uma espécie de G.I Joe constituído por judeus estadunidenses que espalham o terror entre os nazistas que ocupam a França.Eles são um exemplar do que existe de mais fascinante nos universos criados pelo roteirista e diretor: Pessoas que abraçam fortemente com os dois braços aspectos primitivos, como violência, brutalidade e vingança, que no cotidiano todos se esforçam para manter bem guardados nas trevas do mero ser.Liderando a tropa, está o atípico Tenente Aldo, o Apache, caipira do estado Tennessee encarnado por Brad Pitt que dá show ao ostentar um bigode tosco, um sotaque tosco e expressões faciais igualmente toscas para encarnar com maestria um colecionador de escalpos impagável.Outro destaque entre os Inglórious é o apelidado Urso Judeu, que usa seus dotes com um taco de baseball para fins não esportivos.Eli Roth, sádico e cineasta por traz de O Albergue encarna o tipo.
O elenco ainda conta com Mike Myers (em uma cena), Mélanie Laurent, interprete da judia Shosanna, articuladora do grande plano de vingança do filme: queimar um cinema lotado de nazista do mais alto escalão;E Diane Kruger.Quem disse que Quentin Tarantino não ressuscitaria artisticamente ninguém desta vez?Como outrora com Travolta e Carradine, Diane ganha pelas mãos dele uma nova chance de por seu nome no mapa depois de viver a Helena do esquecível épico Tróia, e ela se sai muito bem no papel da formosa espiã Bridget Von Hammersmark.Sem mais delongas, Bastardos Inglórios é um divertido, engraçado e violento holocausto às avessas que faz pensar sobre a velha história dos dois pesos para uma mesma medida.Ver pessoas serem brutalmente assassinadas pode ser revoltante, certo?Bem, depende se as pessoas em questão usam ou não suásticas.